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A luta para assegurar os direitos dos povos indígenas foi o tema ao qual se dedicou a Santa Missa da 49ª Assembleia Geral da CNBB em Aparecida do Norte desta segunda-feira, 9. No início da última semana de trabalhos, o Bispo Prelado do Xingu (PA), Dom Erwin Kräutler, ressaltou a injustificável demora na demarcação das terras indígenas e exortou ao pleno respeito à multiplicidade étnica e cultural.
A meditação do bispo prelado sobre o Evangelho do dia destacou que a narração bíblica não fala de milagres, mas de sinais. “A finalidade principal dos sinais é despertar e corroborar a fé em Jesus, o Cristo. Como os sinais, também a fé é obra de Deus. Ela não é imposta, mas requer a decisão pessoal de comprometer-se com Jesus, o Filho de Deus”, disse.
Não tenhais medo. “A fé dá coragem, o medo paralisa. Deus é Emanuel, Deus conosco. Crer é viver na proximidade de Deus, desfrutar da intimidade com Deus. Ter experiência viva de Deus. Crer é andar com Deus“, explicou.
Páscoa é vida que vence a morte, o amor triunfa sobre o ódio e a guerra, exterminam-se a violência e a injustiça.
“Mas será que é mesmo Páscoa? Rompeu-se realmente a aurora do dia da vitória, da libertação da casa da escravidão? Será que a Páscoa que celebramos não é apenas utopia que acalentamos, sonho que sonhamos? As cruzes não continuam erguidas mundo afora? Não estão presentes em cada esquina, ao longo das estradas? Não estão pregados nelas homens e mulheres considerados supérfluos, descartáveis, porque não se enquadram num sistema que faz do lucro sua única mola mestra? Não continuam pregados na cruz os indígenas, violentados e assassinados, expulsos e fraudados de suas terras ancestrais, reduzidos a párias da sociedade, enxotados como animais, violentados e tratados como vagabundos de beira de estrada, ou confinados em verdadeiros currais humanos, sem mínimas condições de sobrevivência física e muito menos cultural? Não estão pregadas nessas cruzes as vítimas do tráfico humano, que se alastra pela Amazônia, meninas e meninos aliciados por redes de prostituição que operam em nosso querido Estado do Pará e em outros do Norte e Nordeste? Não estão condenadas a morrer na cruz milhares de famílias arrancadas de seus lares, sítios e roças por projetos desenvolvimentistas que ludibriam o povo com falsas promessas de planos que aceleram a destruição da Amazônia e fazem crescer bolsões da miséria?”, questionou.
O Bispo prelado perguntou que Páscoa se pode celebrar quando se ouve o grito desesperado de famílias que tiveram entes assassinados e a cujos criminosos e pistoleiros de aluguel nada se faz. Da mesma forma, recordou a constante ameaça dos próprios seres humanos contra o planeta, uma “geração perversa que compromete seriamente a vida de filhos e netos”.
Mas, o que é a Páscoa, afinal? “Irmãos e irmãs, a Páscoa não é festa de nossa chegada no reino denfinitivo na glória. A Páscoa é celebração de passagem, não é ponto de chegada. É caminho. E caminhando recordamos que Jesus anda na nossa frente. Por isso, nunca perdemos a esperança de um mundo diferente, justo, solidário, fraterno, do bem viver”, frisou.
Dom Erwin concluiu sua reflexão lembrando que crer significa entrar em comunhão profunda com Deus:
“Ao ressuscitar Jesus, Deus deu seu sim irrevogável à vida. Celebrar a Páscoa significa estar pronto para trabalhar nas obras de Deus, e a obra de Deus é que ‘creiais naquele que ele enviou’. Crer naquele que o Pai enviou é comprometer-se com a vida onde outros semeiam morte, defender a justiça onde a violência e o ódio ferem a dignidade e os direitos humanos. Crer é admirar com gratidão o lar que Deus criou para todos nós, cuidar dele e zelar com carinho por ele, em vista das gerações que vem depois de nós. Trabalhar nas obras de Deus não pode ser empenho superficial. Pressupõe, antes, profunda e entranhada mística, alicerçada no amor radical de Jesus até o fim. É deixar-se transpassar pelo amor de Deus, manifestado em Cristo Jesus, Senhor Nosso, contemplar seu sangue derramado, que é amor incorrupítvel, e seu corpo entregue, alimento que nos sustenta e dá coragem enquanto peregrinamos neste mundo”.