Bento XVI dedicou a Catequese desta quarta-feira, 12, ao exemplo de vida de Santa Catarina de Gênova, italiana que viveu no século XV.
A santa é amplamente conhecida por sua visão do purgatório, que foi uma guinada na concepção tradicional de sua época. A partir dos escritos que recolhem as narrativas de Catarina sobre o assunto, o Pontífice falou sobre essa realidade espiritual.
“O primeiro traço original diz respeito ao ‘lugar’ da purificação das almas. Em Catarina, ao contrário [de sua época], o purgatório não é apresentado como um elemento de paisagem das vísceras da terra: é um fogo não exterior, mas interior. Esse é o purgatório, um fogo interior. […] Sentimos no momento da conversão, onde Catarina sente de repente a bondade de Deus, a distância infinita da sua vida dessa bondade e um fogo queimando dentro de si mesma. E esse é o fogo que purifica, é o fogo interior do purgatório”, ensinou.
O Papa acrescentou que, ali, “a alma é consciente do imenso amor e da perfeita justiça de Deus e, por consequência, sofre por não ter respondido de modo correto e perfeito a tal amor, e exatamente o próprio amor a Deus torna-se chama, o amor mesmo a purifica das suas escórias do pecado”.
Apesar da clareza do ensinamento de Catarina, Bento XVI recordou que a santa, na sua experiência mística, nunca teve revelações específicas sobre o purgatório ou sobre almas que ali estão se purificando, mas escritos inspirados.
“Santa Catarina ensina-nos que quanto mais amamos a Deus e entramos em intimidade com Ele na oração, tanto mais Ele se faz conhecer e acende o nosso coração com o seu amor. Escrevendo sobre o purgatório, a Santa recorda-nos uma verdade fundamental da fé que se torna, para nós, convite a rezar pelos defuntos, a fim de que possam chegar à visão beatífica de Deus na comunhão dos santos”.
Ele também salientou que as mulheres “dão uma contribuição fundamental à sociedade e à Igreja com a sua obra preciosa, enriquecida pela sua sensibilidade e atenção com os mais pobres e mais necessitados”.
Da mesma forma, disse que os santos, “na sua experiência de união com Deus, alcançam um ‘saber’ tão profundo dos mistérios divinos, no qual amor e conhecimento se compenetram, que são auxílio aos próprios teólogos no seu empenho de estudo”.
“Não devemos nunca esquecer que, quanto mais amamos a Deus e somos constantes na oração, tanto mais conseguiremos amar verdadeiramente quem está ao nosso redor, quem nos é próximo, porque seremos capazes de ver em toda a pessoa o rosto do Senhor, que ama sem limites e distinções. A mística não cria distância com o outro, não cria uma vida abstrata, mas, mais que tudo, aproxima do outro, porque se começa a ver e agir com os olhos, com o coração de Deus”, explicou.
Santa Catarina
O texto que recolhe aspectos da vida e pensamento de Santa Catarina de Gênova foi publicado em 1551 e é dividido em três partes: a Vita propriamente dita, a Dimostratione et dechiaratione del purgatorio [Demonstração e declaração do purgatório] – mais conhecida como Trattato – e o Dialogo tra l’anima e il corpo [Diálogo entre a alma e o corpo]. A obra teve como autor final o confessor da santa, o sacerdote Cattaneo Marabotto.
Catarina nasceu em Gênova, em 1447. Foi a última de cinco filhos e ficou órfã de ainda quando pequena. A mãe deu-lhe uma válida educação cristã. Aos dezesseis anos, foi prometida em casamento a Giuliano Adorno, que gostava de jogos de azar.
“A própria Catarina foi induzida inicialmente a cultivar um tipo de vida mundana, na qual, contudo, não chegou a encontrar serenidade. Após dez anos, no seu coração havia um sentimento de profundo vazio e amargura”, explicou o Pontífice.
Sua conversão iniciou em 20 de março de 1473, quando, indo à Igreja de São Bento e ao Mosteiro de Nossa Senhora das Graças para confessar-se, ajoelhou-se diante do sacerdote e teve uma visão tão clara de suas misérias e defeitos, bem como da bondade de Deus.
“Dessa experiência nasce a decisão que orientou toda a sua vida, expressa nas palavras: ‘Não mais o mundo, não mais pecados’ (cf. Vita mirabile, 3rv)”, continua Bento XVI. A santa somente aceitou narrar as suas experiência de comunhão mística com Deus na perspectiva de dar-Lhe glória e poder beneficiar o caminho espiritual de outros.
Foi no hospital de Pammatone que ela alcançou vértices místicos e viveu uma existência totalmente ativa, apesar da profundidade de sua vida interior. O próprio marido foi conquistado a deixar sua vida dissipada, tornando-se terciário franciscano e transferindo-se ao hospital para dar o seu auxílio à mulher.
“O empenho de Catarina na cura dos doentes segue até o fim de seu caminho terreno, em 15 de setembro de 1510. Da conversão à morte não houve eventos extraordinários, mas dois elementos caracterizaram toda a sua existência: de um lado, a experiência mística, isto é, a profunda união com Deus, sentida como uma união esponsal, e, de outro, a assistência aos doentes, a organização do hospital, o serviço ao próximo, especialmente os mais necessitados e abandonados. Esses dois pólos – Deus e o próximo – preencheram totalmente a sua vida, transcorrida praticamente no interior dos muros do hospital”, citou o Santo Padre.