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Aparecida | SP

Serafina Cinque, o ‘Anjo da Transamazônica’

A amazonense Serafina (Noeme) Cinque, filha de pais italianos, foi reconhecida pelo Papa Francisco pelas suas virtudes heroicas. Ontem (27), em reunião com o Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, foram promulgados diversos decretos, entre eles o da brasileira, conhecida como ‘Anjo da Transamazônica’.

Noeme Cinque nasceu em 1913, em Urucurituba, Amazonas. Ganhou o nome de Serafina ao professar os votos na Congregação das Adoradoras do Sangue de Cristo, aos 35 anos.

Como dedicada professora e enfermeira, colaborou no interior de seu estado, onde não havia médicos para atendimento da população carente. Irmã Serafina fez partos, cuidou de enfermos e ensinou Medicina e alimentação alternativa para combater a fome e as doenças.

Mulher de dedicação inesgotável, em 1971 foi enviada para a cidade de Altamira, no Pará, onde vivenciou o drama da abertura da Estrada da Transamazônica. Nessa realidade, ofereceu-se ao cuidado da população, e, não sendo possível o atendimento no hospital, por causa da superlotação, acolhia em abrigos provisórios os doentes que ficavam pelas ruas.

Depois de inúmeros sofrimentos, o bispo de Altamira, dom Eurico Krautler (tio de dom Erwin Krautler), conseguiu apoio internacional, para junto ao padre Frederico Tschol construir a Casa da Divina Providência e, mais tarde, o Refúgio São Gaspar para abrigar gestantes e doentes.

O local ficou aos cuidados de Irmã Serafina. Para conseguir doações para a subsistência da casa, a religiosa seguia em caminhões, trilhando muitos quilômetros ao longo da Transamazônica. Conta-se que Irmã Serafina recolhia até as sobras de supermercados para alimentar os assistidos pela obra.

A vice-postuladora da causa de beatificação da religiosa, Irmã Marília Menezes, da mesma ordem de Irmã Serafina, cuida da documentação e divulgação do testemunho da religiosa há mais de 15 anos. Andou por diversos lugares na Amazônia onde Irmã Serafina trabalhou, ajudou a coletar cerca de 300 documentos e 52 testemunhos de pessoas que conheceram a religiosa, e escreveu quatro livros apresentando a missão pastoral e uma biografia detalhada, que reforçam as virtudes evangélicas do ‘Anjo da Transamazônia’, além de um livro de história em quadrinhos.

Com esse decreto, a Igreja e os fiéis devotos de Irmã Serafina poderão chamá-la de Venerável, e aguardar um milagre, devidamente comprovado, para que possa ser considerada beata, ficando a um passo da santidade.

“Ficamos muito felizes com essa notícia, eu e minha congregação religiosa. Estou nesse trabalho há quinze anos, junto com a Irmã Maria Paniccia, que mora em Roma. Ao olhar a vida de Irmã Serafina, vemos que ela foi inteiramente dedicada aos irmãos. Quando abriu a Transamazônica, aquilo foi uma coisa horrorosa. Naqueles tempos, cheia de trabalhadores e muitas gestantes que viviam abandonadas pelas ruas, ela logo começou a recolhê-las em casas pobres e sonhava abrir uma casa para todas elas”, relata Irmã Marília.

A vice-postuladora recorda que na atualidade, três décadas depois da abertura da Casa da Divina Providência e do Refúgio São Gaspar, ainda são muitos os que vivenciam a mesma realidade da época de Irmã Serafina. “Já faz quase trinta anos e as ruas continuam com doentes e gestantes, hoje não é mais a Transamazônica, mas as hidrelétricas”.

Irmã Marília destaca que o reconhecimento das virtudes de Irmã Serafina, como a humildade, paciência, fé e principalmente caridade, não só reforçam o seu testemunho, mas devem servir de exemplo. “A causa de Serafina é uma causa de Deus, ao vermos tanta violência e exemplos que tentam desvalorizar as virtudes”.

Para divulgar a vida de Irmã Serafina, a Congregação já publicou os documentos e a história da religiosa em cinco idiomas e distribuiu nos 25 países onde mantém casas religiosas.